O Biscateiro - Zeca Pagodinho

Doutor, não me leve pro xadrez\nPois é a primeira vez que entro nessa furada\nLá em casa não havia mantimento\nFoi fraqueza do momento\nEu parti pro tudo ou nada\nDei um papo no dono da mercearia\nEle bem que podia resolver a situação\nA resposta foi não e eu fui pra padaria\nMas também me negaram o leite e o pão\nNo açougue, onde o dono já me conhecia\nNem carne de segunda ele quis me fiar\nMinha dor sem remédio foi pra drogaria\nE também não quiseram me remediar\nSou biscateiro, doutor, eu sou honesto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto\nCirculava de um lado pro o outro pedindo «maleme»\nMas não encontrei, uma palavra amiga, uma mão estendida\nUm auxílio na forma da lei\nNão queria sujar o bom nome da minha família\nMas caí na armadilha, não me deram opção\nE como já dizia minha velha tia\nA ocasião é que faz o ladrão\nSou biscateiro, doutor, eu sou honesto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto\nOs amigos da tendinha vão fazer um manifesto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto\nMaria, minha patroa, vai correr atrás do resto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto\nMulher, dinheiro e viola é coisa que eu não empresto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto\nFalar mal da vida alheia é uma coisa que eu detesto\nVai lá no morro, doutor, saber se eu presto ou não presto